Foto de passarinho na gaiola
Ciências sociais

Prisioneiro – quem quer ser passarinho na gaiola?

Se você fosse um animal (não humano), qual gostaria de ser? Muita gente, já ouviu e inclusive respondeu esta pergunta. E boa parte responde que gostaria de ser um pássaro. Por quê? Para ser livre e voar.

Portanto, supõe-se que, se todos os pássaros vivessem em gaiolas, quase ninguém responderia que queria ser um pássaro. Então, por que condená-los a esse triste destino? Por que aprisionar o passarinho na gaiola? Por que tornar um pássaro seu prisioneiro?

Não é eticamente correto capturar aves, comercializá-las ou mantê-las em gaiolas ou cativeiro, defende publicação da Universidade de Cambridge, Reino Unido. Quando você compra uma ave, estimula as práticas de caça, captura e aprisionamento.

Sendo assim, se você realmente gosta de aves, não compre e também não capture. Você é contra a caça de animais? Então, não estimule a comercialização.

Das aves capturadas, 75% e 90% morrem antes de chegar ao local de comercialização

Você é contra atirar em passarinhos? Saiba que, segundo os autores da publicação, que são especialistas em zoologia e medicina veterinária, 75% e 90% das aves capturadas na natureza morrem antes de chegar ao local de comercialização. É como atirar em passarinhos e acertar entre 75% e 90% deles. Sendo assim, quando você compra animais nessa condição, estimula uma grande matança.

Além disso, conforme afirmam os autores, “tirar as aves da natureza tem efeitos negativos sobre a biodiversidade”. Um terço de todas as espécies de aves selvagens estão ameaçadas em função do comércio de animais de estimação.

Ademais, como resultado dessa prática, algumas espécies de pássaros já foram até extintas. E, para muitas outras espécies, o tamanho de sua população foi bastante reduzido.

Aliás, não apenas a espécie capturada é prejudicada. Por várias razões, certos métodos de captura afetam diretamente outras espécies. Isso porque a captura das espécies alvo envolve a morte de espécies não alvo. A captura de uma espécie pode, por exemplo, resultar no aumento do crescimento de plantas ou animais que antes seriam consumidos pela espécie capturada.

Os impactos do confinamento do passarinho na gaiola

Malefícios à saúde física

E virar ave ou passarinho na gaiola pode ser um destino ainda pior que a morte. A falta de espaço limita severamente seu comportamento e gera perda da força muscular e doenças.

Os autores usam o exemplo das galinhas mantidas em gaiolas. Estas, em função da impossibilidade de se exercitarem, desenvolvem osteoporose e podem quebrar os ossos quando manipuladas.

Assim como ocorre com seres humanos que não se movimentam suficientemente, animais em cativeiro são vulneráveis ​​ao desgaste muscular e à osteoporose.

Da mesma forma, pássaros em gaiolas pequenas geralmente são incapazes de voar, ou de voar longe o bastante para que o exercício seja suficiente. “A obesidade é um problema comum a muitas aves de estimação, porque elas não praticam exercícios e são alimentadas em excesso”.

Ironicamente, os humanos, além de tudo, expõem esses animais a doenças tipicamente humanas justamente porque lhes impõem o confinamento e a falta de mobilidade. Ou seja, os humanos capturam esses animais, tirando-os de seu habitat e lhes submetem a um modo de vida humano e, evidentemente, prejudicial. E quem compra um passarinho na gaiola ou para confinar em uma gaiola não captura diretamente, mas o faz indiretamente porque estimula a captura.

Medo e estresse

Os autores explicam que, além do confinamento, o medo a que esses animais ficam expostos lhes causa grande estresse. “Os pássaros selvagens têm muito medo de ficar confinados ou perto de um predador que consideram perigoso, por exemplo, um ser humano.

A reação extrema associada ao medo é uma das razões pelas quais a taxa de mortalidade de pássaros retirados da natureza e colocados em gaiolas é muito alta”. O estresse causado pelo cativeiro reduz a imunidade e aumenta a vulnerabilidade a doenças.

“O medo dos humanos é um grande problema para muitas aves de companhia, mesmo se criadas em cativeiro”. Aves em cativeiro podem reagir a situações assustadoras e estressantes, evitando beber e se alimentar.

Além disso, os autores informam que os humanos não são companhia adequada para a maioria das espécies. Uma das principais causas de medo e angústia das aves em cativeiro é a separação da família e dos companheiros. O alojamento individual de longo prazo é a maior causa do mal-estar.

“A maioria das espécies mantidas como animais de companhia são sociais e, para espécies sociais de pássaros, ser privado da interação social com membros de sua própria espécie tem efeitos extremamente negativos em seu bem-estar”.

As próprias tentativas de fuga, por si só, geram intensa frustração e mal-estar.

Ninguém quer ser passarinho na gaiola

Enfim, os autores reforçam que, por uma questão de justiça, não é certo manter esses seres contra a vontade em cativeiro. É tão óbvio, mas infelizmente o bom senso passa longe da humanidade.

Quem já tem pássaros confinados, criados em cativeiro, nem sempre pode lhes devolver a liberdade, até porque muitos deles não conseguiriam sobreviver. Mas se você parar de comprar esses animais, deixará de estimular a caça. É assim que você pode desencadear a mudança.

Muito dos que criticam as atividades de caça de animais em geral compram pássaros. Observe o quanto isso é incoerente. Afinal de contas, a continuidade da criação em cativeiro para comercialização estimula e apoia a caça.

Então, a solução não é evidentemente soltar esses pássaros na natureza à própria sorte. Aos que não têm condições de sobreviver fora do cativeiro, porque já foram criados dessa forma, deve-se, no mínimo, proporcionar o melhor conforto possível, como, por exemplo, espaços maiores.

A solução é, na verdade, parar de estimular esse sistema, para evitar que os pássaros continuem sendo capturados e confinados.

Deve-se parar de estimular também esse sistema que cria pássaros em cativeiro. Animais não são objetos, não são ornamentos. Não é justo condená-los a uma “vida” de objeto.

Seja como for, um dia, o comportamento predatório humano destes nossos tempos será majoritariamente interpretado como atitude primitiva e superada pela educação e pela aplicação de leis que garantirão os direitos animais. Mas, enquanto não se chega a esse estágio, é preciso conviver com esta realidade que não faz nenhum sentido.

Luz no fim do túnel

Por outro lado, certos movimentos podem representar uma luz no fim desse túnel de crueldade. De acordo com a Agência Câmara de Notícias, o deputado Nilto Tatto (PT-SP) criou um projeto de lei que proíbe a criação de pássaros em gaiolas ou viveiros domésticos.

Isso porque, para ele, tanto a caça quanto o confinamento em gaiolas já não fazem sentido nos dias de hoje.

O objetivo do Projeto de Lei 1487/19 é alterar a Lei de Proteção à Fauna. A alteração incluiria a proibição, que valeria para pássaros de quaisquer espécies, sejam elas nativas ou exóticas, silvestres ou domésticas.

O deputado considera afirma que a criação de pássaros em cativeiro “uma forma de violência”, que alimenta esse mercado cruel da criação e tráfico de animais silvestres.

“O projeto procura avançar mais um passo no sentido do respeito aos animais e também do combate ao tráfico de fauna. Assim como a caça não se justifica mais (exceto para algumas populações tradicionais que necessitam dela para subsistência), pássaros engaiolados também não fazem mais sentido nos dias modernos”, afirmou o deputado, segundo a Agência Câmara de Notícias.

Conforme a fonte, o deputado defende que “a posse dos animais não pode ser mais importante que ver pássaros livres”. Os admiradores de pássaros podem admirar a beleza das aves livres na natureza. Afinal, para ele, “há muitas formas melhores para conviver com a fauna do que aprisioná-la”.

De fato, a melhor forma de admirar pássaros é plantar árvores. E eles virão cantar para você. E você sentirá a paz transformadora de testemunhar a liberdade e a consciência tranquila de não ter nenhum passarinho na gaiola.

A finalidade de projetos como esse não é soltar à própria sorte os animais que estão confinados. É interromper esse sistema cruel que os transforma em prisioneiros. Afinal, quem quer ser passarinho na gaiola? Você quer?


Referências bibliográficas:


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