Benefícios do veganismo para o meio ambiente
Editorial

Benefícios do veganismo para o meio ambiente

Quais os benefícios do veganismo para o meio ambiente e, portanto, para o planeta? Se você parar analisar essa questão friamente, vários benefícios lhe virão à cabeça. Em primeiro lugar, se o veganismo é um estilo de vida cuja prática gera proteção dos animais, esse ponto, por si só, já o coloca no sentido da preservação ambiental.

Ora, pense nos animais em seu habitat natural, sem as ameaças constantes, perversas, destruidoras e desnecessárias do predador humano. Pense no quanto isso contribui, por exemplo, com a preservação da biodiversidade e do equilíbrio da biosfera – conjunto de elementos naturais da Terra –, fundamental para a estabilidade e manutenção da vida no planeta.

Mas este artigo trata de outras vantagens desse estilo de vida para o planeta, cujos desdobramentos também são inúmeros e praticamente incontáveis. Todos eles cientificamente fundamentados.

Segundo a ciência, os benefícios do veganismo para o meio ambiente são os seguintes:

  • o veganismo propicia um menor uso da terra;
  • diminui as emissões de gases de efeito estufa;
  • promove a mitigação das mudanças climáticas e do aquecimento global;
  • reduz o desmatamento;
  • preserva a biodiversidade;
  • reduz a contaminação da água, do solo e do ar, que se dá pela produção de carne e de outros produtos animais;
  • previne a escassez de recursos hídricos;
  • é mais sustentável e ecologicamente correto;
  • previne a transmissão de doenças entre espécies e humanos;
  • colabora com a redução da resistência microbiana que é promovida pelo uso de antimicrobianos na criação de animais.

Leia mais e entenda como o veganismo se associa com esses benefícios. Compreenda como o veganismo ajuda o meio ambiente.

Por que o menor uso da terra é um dos principais benefícios do veganismo para o meio ambiente?

A produção de produtos de origem animal, tais como carne, ovos, laticínios, e também a aquicultura (produção de animais aquáticos), usam cerca de 83% das terras agrícolas do mundo. Aliás, boa parte do que é usado para agricultura é dedicada à produção de alimentos destinada à criação de animais1.

Em contraste, a adoção de uma alimentação vegana exigiria um menor uso da terra – menos de 10% do que foi usado na produção agrícola nos últimos 30 anos aqui no Brasil2.

Por sua vez, o menor uso da terra contribui com a redução das emissões de gases de efeito estufa. De fato, o uso da terra para produção de produtos de origem animal contribui com cerca de 57% das diferentes emissões de gases de efeito estufa originadas da produção de alimentos1.

A pecuária global, por exemplo, é responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa. E as dietas à base de plantas, por outro lado, reduzem essas emissões3. Com isso, levam à mitigação das mudanças climáticas e do aquecimento global, que colocam o planeta em risco4,5.

Ainda, a redução do uso da terra geraria, evidentemente, diminuição do desmatamento e, portanto, da destruição do planeta2,4.

A redução do desmatamento, por sua vez, preserva a biodiversidade e diminui o risco de extinção de várias espécies. Em outras palavras, preservação o ecossistema, atualmente ameaçado pela expansão das pastagens2,4,6.

Por tudo isso, o menor uso da terra destaca-se como um dos principais benefícios do veganismo para o meio ambiente. Seus desdobramentos ajudam a entender como o veganismo ajuda o meio ambiente.

O veganismo reduz ainda a contaminação da água, do solo e do ar

Sabe-se que a produção de carne gera a contaminação a água, o solo e o ar. Nos Estados Unidos, por exemplo, o principal setor poluidor do ar é a agricultura, devido principalmente à criação de animais1.

Além disso, os antimicrobianos usados nesses animais são detectáveis ​​no esterco e nos solos aos quais o esterco foi aplicado7. A disseminação desse tipo de produto no ambiente contribui com o aumento dos casos de resistência microbiana que afeta animais humanos e não humanos ao tornar os antibióticos cada vez mais resistentes e ineficazes.

E ainda essa contaminação não é restrita ao solo das proximidades do confinamento do gado. A partir desses locais, partículas contendo antimicrobianos e sequências de genes de resistência antimicrobiana são transportadas pelo ar, contaminando outras áreas, bem como animais humanos e não humanos e seus alimentos7.

Dessa maneira, traz problemas ambientais, inclusive para animais selvagens das proximidades e de saúde, também, para comunidades vizinhas7.

Além dos antimicrobianos, o material particulado fugitivo do pátio de rações foi identificado como meio de transporte para esteroides sintéticos (androgênios, estrogênios e progestagênios). Estas substâncias são, em geral, os promotores de crescimento (anabolizantes) – hormônios utilizados no gado para promover crescimento rápido7.

Outro fator de contaminação é descarte do estrume desses animais, cuja reprodução em massa é provocada pelos humanos. O estrume animal, quando manejado incorretamente representa uma ameaça à saúde humana e ao meio ambiente4.

Os poluentes potenciais associados aos dejetos animais incluem nutrientes (amônia, nitrogênio etc.), matéria orgânica, patógenos, antibióticos, oligoelementos (arsênio e cobre) etc., que afetam diretamente a saúde humana4.

Tais dejetos também causam erosão do solo, o que torna esse sistema de produção animal ainda mais insustentável4,8.

O veganismo reduz também o problema da escassez de recursos, mostrando-se mais sustentável e ecologicamente correto

É evidente que, ao reduzir a contaminação dos recursos hídricos, o veganismo reduz também a escassez desses recursos, que não são inesgotáveis.

Porém, os benefícios do veganismo nesse quesito vão além. Isso porque ele evita ainda o abuso de recursos hídricos, comum nas fazendas tradicionais, que é necessário para criar os animais8.

Afinal, se nada for feito, esses recursos não vai durar para sempre. Por esse e todos os outros motivos aqui mencionados, o veganismo é mais sustentável e ecologicamente correto8,9.

Essa maior sustentabilidade que o veganismo promove é também advinda de uma menor perturbação dos ecossistemas, inclusive, dos marinhos, da qual as gerações atuais e futuras irão se beneficiar10.

A redução da transmissão de doenças entre espécies e humanos é também um dos benefícios do veganismo para o meio ambiente

Embora, a diminuição da transmissão de doenças entre humanos e outras espécies seja um dos ganhos para a saúde, ela é também um benefícios do veganismo para o meio ambiente. Isso porque, além de ocorrer, neste caso, por via ambiental, afeta os animais não humanos.

De fato, durante a pandemia do coronavírus, dietas à base de plantas foram propostas como um meio para prevenir e mitigar transmissões futuras de vírus e outras ameaças dessa natureza entre diferentes espécies e humanos3. Além disso, nesse contexto, contribui, como já falamos, para o aumento do risco de resistência bacteriana7.

Afinal, ao permanecer “neste errático comportamento, inclusive com mudanças climáticas cada vez mais acentuadas, estaremos caminhando para uma elevação do risco de doenças, sobretudo zoonoses pandêmicas, com repercussões inimagináveis. E, surpreendendo-se como se nada pudesse ser evitado”4.


Referências bibliográficas:

  1. Treich N. Cultured Meat: Promises and Challenges. Environmental and Resource Economics 2021;79:33-61.
  2. Pompeu J et al. Is domestic agricultural production sufficient to meet national food nutrient needs in Brazil? PLoS One 2021;16(5):e0251778.
  3. Kaiser J et al. A Systematic Review of the Association Between Vegan Diets and Risk of Cardiovascular Disease, The Journal of Nutrition, 2021;nxab037.
  4. Pancheri IF, Campos RAC. Justiça animal e COVID-19: por que devemos parar de ferir os animais? Lex Humana 2021;13(2):75–99. Disponível em http://seer.ucp.br/seer/index.php/LexHumana/article/view/2085
  5. Michel F et al. A multi-national comparison of meat eaters’ attitudes and expectations for burgers containing beef, pea or algae protein. Food Quality and Preference 2021;104195.
  6. Comissão EAT-Lancet. Dietas Saudáveis A Partir De Sistemas Alimentares Sustentáveis. Relatório Sumário da Comissão EAT-Lancet. Disponível em https://eatforum.org/content/uploads/2019/07/EAT-Lancet_Commission_Summary_Report_Portugese.pdf
  7. Smith PN. The Meat of the Matter: Environmental Dissemination of Beef Cattle Agrochemicals. Environ Toxicol Chem 2021;40(4):965-966.
  8. Seymour M, Utter A. Veganic farming in the United States: farmer perceptions, motivations, and experiences. Agric Human Values 2021;7:1–21.
  9. Saari UA et al. The vegan trend and the microfoundations of institutional change: A commentary on food producers’ sustainable innovation journeys in Europe. Trends in Food Science & Technology 2021;107:161-167.
  10. Kazir M, Livney YD. Plant-Based Seafood Analogs. Molecules 2021;26(6):1559.

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