Veganismo e qualidade de vida
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Veganismo e qualidade de vida na ciência

Veganismo e qualidade de vida andam de mãos dadas. É o que mostra, em grande parte, uma revisão de estudos científicas cujo objetivo foi apresentar uma visão geral a qualidade de vida dos vegetarianos. Pesquisadores brasileiros, da Universidade de Brasília, integram a autoria. O trabalho, que inclui resultados específicos sobre veganos, foi publicado na mais nova edição da revista científica suíça International journal of Environmental Research and Public Health.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, a qualidade de vida está relacionada com a percepção do indivíduo quanto à sua posição na vida frente aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. Sendo assim, qualidade de vida é um conceito amplo que envolve a sensação de bem-estar de um indivíduo no contexto físico, psicológico, social e ambiental. Por isso, na revisão, os autores incluíram fatores que têm influência sobre a qualidade de vida dos veganos, aplicadas a todos esses contextos.

Contexto psicológico e social – influência positiva

De acordo com a revisão, escolher se tornar um vegano tem efeitos positivos atribuídos às relações sociais, identificação e senso de conexão com a subcultura vegana. Como exemplo, os autores citam um estudo conduzido com jovens mulheres veganas. Este estudo “revelou que elas não apenas se identificavam com a dieta, mas também se engajavam apaixonadamente em um estilo de vida vegano”. Portanto, “a escolha de seguir uma dieta vegetariana pode melhorar a conexão com outras pessoas que compartilham a mesma filosofia de vida, fortalecendo os laços sociais e influenciando positivamente a qualidade de vida”.

De acordo com a revisão, escolher se tornar um vegano tem efeitos positivos atribuídos às relações sociais, identificação e senso de conexão com a subcultura vegana. Como exemplo, os autores citam um estudo conduzido com jovens mulheres veganas. Este estudo “revelou que elas não apenas se identificavam com a dieta, mas também se engajavam apaixonadamente em um estilo de vida vegano”. Portanto, “a escolha de seguir uma dieta vegetariana pode melhorar a conexão com outras pessoas que compartilham a mesma filosofia de vida, fortalecendo os laços sociais e influenciando positivamente a qualidade de vida”.

Veganismo e qualidade de vida

De fato, segundo a revisão, “veganos descrevem sua dieta não como uma escolha individual, mas como uma manifestação de sua ética social”. As preocupações éticas e morais são os facilitadores mais importantes da adesão à dieta, uma vez que a falta de adesão iria contra o código moral do grupo. Os autores acrescentam que, “sentir-se parte de um grupo social também pode influenciar positivamente o quão estritamente alguém se apega a um padrão alimentar”. “O sentimento de pertencimento e o reforço social intragrupo podem facilitar a manutenção dos padrões alimentares dos indivíduos, desde que se sintam apoiados pelo grupo”, reforçam os autores.

Para reforçar o discurso que relaciona qualidade de vida com o domínio psicológico, os pesquisadores comentam ainda estudos que apontaram associação entre os sintomas depressivos e uma dieta de peixes ou ovo-lacto-vegetariana, e nenhuma associação entre depressão e dieta vegana. Para os autores, esse fato contradiz a ideia de que uma dieta mais rígida, que exclui mais ou todos os produtos de origem animal, levaria a sintomas mais graves de depressão.

Contexto psicológico e social – influência negativa

Na pesquisa, os autores encontraram também referências aos aspectos negativos que podem afetar a qualidade de vida dos veganos. Eles mencionam a rejeição sofrida pelos veganos, que acabam se tornando vítimas de estereótipos e discriminação. O pesquisadores explicam que essas atitudes são conhecidas como veganofobia e que este termo já está difundido na literatura científica. “Uma possível explicação para a discriminação contra vegetarianos e veganos está relacionada à dissonância cognitiva sofrida por indivíduos que comem carne”, afirmam os autores. “Nesse contexto, dissonância cognitiva refere-se à contradição vivenciada por indivíduos que gostam de animais e sentem compaixão por eles, mas, ao mesmo tempo, consomem carne”, eles explicam. Logo, segundo os pesquisadores, indivíduos que comem carne podem manifestar essa discriminação não por medo ou antipatia, mas porque os que não comem “representam uma afirmação de que comer carne não é necessário e, portanto, injustificado”.

Os autores esclarecem ainda que as consequências negativas de uma identidade vegetariana geralmente têm um impacto mais forte sobre os veganos do que os vegetarianos. Isso porque os veganos sofrem mais rejeição e são vistos de forma mais negativa pelos onívoros (indivíduos que comem carne). De acordo com a revisão, “essa discriminação não vem apenas de pessoas não vegetarianas, mas também da mídia”. Para defender esse ponto, os pesquisadores citam um estudo que avaliou como o veganismo era relatado em jornais do Reino Unido. “Tal estudo concluiu que a mídia tende a apresentar os veganos como sentimentalistas, fanáticos e extremistas, além de zombar do veganismo e considerá-lo impossível de se manter na prática”.

Contexto ambiental

No tocante ao domínio ambiental, as pesquisas mostram que quanto mais uma dieta é de origem vegetal, mais sustentável ela é. Sendo assim, a dieta vegana foi eleita a mais sustentável de todas, porque promove menor emissão de gases de efeito estufa e menor impacto ambiental. Tal resultado é ainda mais significativo quando se baseia em alimentos produzidos localmente e com menor consumo de substitutos de carne ultraprocessados. Segundo a revisão, “as dietas ovolactovegetarianas têm um impacto ambiental maior do que as dietas veganas, e foi demonstrado que 40% dos gases de efeito estufa das dietas ovolactovegetarianas são atribuídos ao consumo de produtos lácteos”.

Contexto físico

No que diz respeito ao plano físico da qualidade de vida, os autores afirmam seguir uma dieta vegetariana pode levar a melhores resultados de saúde e menor risco de doenças não transmissíveis, o que pode influenciar positivamente no domínio físico da qualidade de vida. As Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) são, globalmente, as principais causas de mortalidade. Entre elas, destacam-se a hipertensão, o diabetes e o câncer. Na revisão, demonstraram que a dieta dos veganos é realmente de melhor qualidade quando comparada à dos vegetarianos e onívoros, inclusive no Brasil. Isso ser dá em função do maior consumo de frutas, vegetais verdes, grãos inteiros e fontes vegetais de proteína, e menor consumo de gordura saturada e sódio.

De fato, como colocam os autores, a alimentação vegana é considerada saudável, nutricionalmente adequada e pode suprir as necessidades nutricionais das pessoas em todas as fases da vida, desde que seja bem planejada. E é aí que está o ponto de atenção. Os pesquisadores destacam o problema da deficiência de vitamina B12, uma vez que este nutriente é encontrado somente em alimentos de origem animal.

Realmente, conforme a revisão, os veganos demonstraram ter níveis mais baixos de vitamina B12 no sangue e ainda níveis aumentados de homocisteína. Esta substância se eleva em função da deficiência de vitamina B12 (e de outros nutrientes), o que pode promover quadros inflamatórios.

Além disso, esse desajuste – falta de B12 e o aumento da homocisteína – podem ocasionar problemas neurológicos, anemia e atraso no desenvolvimento das crianças, bem como aumentar os riscos de doenças cardiovasculares, demência, osteoporose e morte. “Por esse motivo, é necessário monitorar e suplementar os níveis de vitamina B12 entre esses grupos e, possivelmente, estimular a ingestão de alimentos fortificados”, alertam os autores.

A saúde óssea é outro aspecto que exige atenção. Nos veganos, esta tem sido considerada pior do que a dos onívoros. De acordo com a revisão, estudos mostram que veganos apresentam uma menor densidade mineral óssea menor do que onívoros, e também taxas mais altas de fraturas. Os pesquisadores que conduziram estes estudos consideram improvável que esse problema era apenas decorrente de uma menor ingestão de cálcio. Ocorre que a saúde óssea engloba muitos mecanismos complexos e depende de diferentes nutrientes. Estes dados reforçam a necessidade de um planejamento adequado da dieta vegana e monitoramento cuidadoso da saúde óssea.

Por fim, os autores citaram um estudo sobre qualidade de vida dos vegetarianos, incluindo veganos, realizado no Brasil. Nessa pesquisa, os vegetarianos apresentam níveis satisfatórios de qualidade de vida (pontuação média entre 70 e 80 em uma escala de 100 pontos). “Entre os diferentes tipos de vegetarianos, os veganos foram os que obtiveram as pontuações mais altas”, acrescentaram.

Fica cada vez mais evidente que o estilo de vida vegano tem tudo para ser a melhor escolha de um indivíduo. Basta apenas orientação profissional, com acompanhamento de médicos e/ou nutricionistas, que podem proporcionar tanto apoio na adequação nutricional quanto monitoramento contínuo dos parâmetros clínicos que avaliam o estado de saúde.

Qualquer tipo de dieta requer esses cuidados, porém o veganismo ainda é um estilo de vida novo para grande maioria das pessoas. Veganos ainda estão aprendendo a equilibrar as proporções daquilo que consomem. Os onívoros já estudam esses ajustes há muito tempo. Com orientação profissional e acesso à informação, os veganos alcançarão esse status ideal.

O artigo que descreve os resultados da revisão está disponível para leitura em https://www.mdpi.com/1660-4601/18/8/4067


Referências bibliográficas:

  • Hargreaves SM et al. Vegetarian Diet: An Overview through the Perspective of Quality of Life Domains. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(8):4067.

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