Pesquisadores da Universidade de Cambridge, Reino Unido, apontaram a necessidade de realização de maior número de pesquisas sobre os efeitos da alimentação vegana no sistema cardiovascular, incluindo grupos de indivíduos étnico-geograficamente diversos. Essa necessidade foi sinalizada com base em uma revisão de estudos científicos sobre o tema, publicados até outubro de 2020. Na revisão, os pesquisadores observaram que há poucos estudos consistentes e de boa qualidade sobre o tema. A sinalização ocorre porque o rol de benefícios da dieta vegana desperta o interesse de cientistas.
Tais benefícios têm sido demonstrados em vários estudos. Alguns desses benefícios são elencados no texto do artigo sobre a pesquisa. Um deles é a melhora em parâmetros como índice de massa corporal, isto é, relação entre peso e altura. Outros envolvem a redução das taxas de colesterol total e de glicose, da inflamação e da pressão arterial. “Esses efeitos positivos para a saúde cardiovascular podem resultar de menor ingestão de colesterol dietético, gordura saturada e carne vermelha e processada, bem como maior ingestão de fibra, proteína vegetal e fitonutrientes”, diz o texto. “Essas observações sugerem que a dieta vegana pode ter potencial terapêutico na prevenção ou tratamento de doenças cardiovasculares”.
A alimentação vegana, assim como qualquer outra, requer equilíbrio nutricional
Os autores comentam que, por outro lado, os níveis de alguns nutrientes são mais baixos em veganos do que em não veganos. Tal carência pode prejudicar a saúde cardiovascular. Esses nutrientes são selênio, zinco, iodo, vitamina B12 e ainda os ácidos graxos ômega 3 encontrados em peixes, ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA). Todavia, sabe-se que estes ácidos graxos ômega 3 são encontrados originalmente em algas – que são as fontes de ômega 3 dos peixes. Sendo assim, tanto os ácidos graxos quanto os demais nutrientes estão disponíveis por meio de suplementação ou adequação da alimentação. Estes recursos solucionam, portanto, o problema da carência nutricional.
Os benefícios do veganismo vão além da saúde
Outro motivo que, para os autores, torna as pesquisas nessa área necessárias é o aumento da popularidade do veganismo. Para eles, esta não se dá apenas pelos benefícios percebidos na saúde, mas também em função das preocupações com o meio ambiente e bem-estar animal. No artigo, eles mencionam a Food and Agriculture Organization (FAO), agência das Nações Unidas que lidera os esforços internacionais para combater a fome. Explicam que a agência defende que “a adoção de dietas sustentáveis é essencial para enfrentar a degradação dos recursos ambientais e as mudanças climáticas”. Os pesquisadores argumentam que a pecuária global é responsável por 18% das emissões de gases de efeito estufa, e que as dietas à base de plantas reduzem essas emissões.
Por fim, acrescentam que, “durante a pandemia do coronavírus, dietas à base de plantas foram propostas como um meio potencial para prevenir e mitigar a transmissão futura de vírus entre diferentes espécies e humanos”.
O artigo publicado na revista científica americana “The Journal of Nutrition” está disponível na íntegra em https://academic.oup.com/jn/advance-article/doi/10.1093/jn/nxab037/6218067
Referências bibliográficas:
- Kaiser J et al. A Systematic Review of the Association Between Vegan Diets and Risk of Cardiovascular Disease, The Journal of Nutrition, 2021;nxab037. Disponível em https://academic.oup.com/jn/advance-article/doi/10.1093/jn/nxab037/6218067