Ômega 3 de algas
Ciências biológicas

Tem ômega 3 de algas, ninguém precisa de peixe

Estudos sugerem o uso de microalgas como fontes de ômega 3, especialmente DHA. Entre os trabalhos que abordaram o tema ômega 3 de algas, o mais recente é de autoria de pesquisadores do Instituto de Ciência e Tecnologia de Alimentos e Nutrição de Madrid, Espanha.

De acordo com os autores, o cultivo de microalgas (algas microscópicas) representa hoje um mercado crescente. Isso porque, como eles acrescentam, elas são ricas em proteínas, carboidratos, lipídios e outros compostos bioativos.

“Proteínas derivadas de microalgas possuem perfis completos de aminoácidos essenciais e seu conteúdo proteico é maior do que o de fontes convencionais, como carnes, aves e laticínios”, informam. O estudo sobre ômega 3 de algas foi publicado na revista científica suíça Foods.

Ácidos graxos ômega-3 de algas

O ácido linolênico (ALA) é um ácido graxo da família ômega-3. No organismo, o ALA converte-se em ácido eicosapentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenóico (DHA). Essa conversão também ocorre no corpo dos peixes.

Eles comem algas e é daí que eles obtém ALA, que, no organismo deles, converte-se em EPA e DHA. É por isso que, os humanos, ao consumirem peixes, obtêm diretamente EPA e DHA, já formados. Ou seja, eles se formaram no próprio corpo do peixe.

Todavia, como o nosso corpo também é capaz de converter ALA em EPA e DHA, não é necessário comer peixes para obter esses ácidos graxos. Basta comer algas. Ou seja, basta ir direto na mesma fonte que os peixes utilizam.

Afinal, se isso era algo não tão viável antigamente, agora é. Eis a questão. É a evolução.

EPA e DHA são importantes para a saúde

Segundo pesquisas, o EPA e o DHA desempenham papel essencial na manutenção da saúde, pois exercem várias funções neurológicas, cardiovasculares, cognitivas e imunológicas. O DHA tem ainda mostrado resultados positivos, por exemplo, na saúde mental.

De maneira geral, os ácidos graxos ômega-3 melhoram o desenvolvimento neuronal e, com isso, são especialmente importantes para mulheres grávidas e também crianças criadas sob uma dieta vegetariana.

Além de tudo, melhoram a acuidade visual, a performance esportiva e são ainda antiinflamatórios.

Além do ômega 3 de algas – outras fontes comuns de ômega 3

Linhaça e o óleo dela extraído são fontes de ômega 3. Créditos: Magyar / Pixabay.

Na verdade, as algas não são a única fonte vegetal de ALA. Alguns exemplos são as sementes de linhaça, chia, nozes, gérmen de trigo, óleos deles derivados, além de óleo de soja e de canola.

Entretanto, de acordo com alguns estudos, a conversão de ALA obtida dessas fontes em EPA e DHA pode ser ineficiente, o que prejudicaria, de certa forma, a obtenção de níveis suficientes dessas substâncias tão importantes.

Por isso, alguns pesquisadores afirmam que, em dietas à base de plantas, fontes alternativas são necessárias.

Ainda hoje, uma das fontes mais populares de obtenção de ômega 3 é o óleo de peixe. Este, por outro lado, contêm altos níveis de mercúrio, metais pesados, antibióticos e contaminantes ambientais, podendo intoxicar os consumidores.

Além disso, a produção de óleo de peixe atingiu o limite ideal e, por consequência, está evidentemente diminuindo. Era de se esperar. Logo, é necessário procurar fontes sustentáveis ​​e seguras de ômega-3 DHA.

Microalgas são as melhores fontes de ômega 3

De fato, como mostra a literatura científica, a melhor fonte é o ômega 3 de algas. Por exemplo, um estudo publicado em 2019 na revista africana Scientific African defendeu esse argumento. Para os autores desse estudo, “as microalgas são a melhor fonte alternativa de ômega-3 DHA biodisponível”.

Eles alegaram ainda que obter DHA de fontes confiáveis, como do ômega 3 de algas, é particularmente importante durante o desenvolvimento fetal e neonatal, período em que as demandas de DHA no sistema nervoso central não podem ser prontamente atendidas apenas pelo ALA.

Mais do que ômega 3 de algas

Conforme afirmam os pesquisadores, as microalgas oferecem ainda diversos outros nutrientes essenciais. Isso inclui, por exemplo, nutrientes como ferro, zinco, vitamina B3, vitamina B6, vitamina C, vitamina E e magnésio, alguns dos quais são fatores que, além de tudo, auxiliam a conversão de DHA a partir de ALA no corpo.

“Por causa disso, as microalgas foram recentemente apontadas por 130 academias nacionais de ciência e medicina como um dos alimentos inovadores que podem trazer diversos benefícios para a saúde humana e o clima, em um futuro próximo”, declaram.

Eles afirmam ainda que “o aumento do consumo de microalgas substituirá o consumo de carne em algumas regiões e, portanto, reduzirá a emissão de gases de efeito estufa que emanam da carne”.

Apesar do ômega-3 de algas e de todas as outras fontes vegetais, o pêndulo ainda pende para o consumo de animais

Por fim, o mais importante neste cenário é que qualquer que seja o recurso indicado pelos profissionais como melhor fonte de ômega 3 – sejam as mais comuns entre nós, como linhaça e a chia, ou as mais inovadoras, como as microalgas –, os peixes ficam fora da história. Os peixes ficam no mar – ou em seu habitat natural –, que é onde queremos que eles estejam.

Afinal, sabemos que, infelizmente, se os peixes, enquanto fonte de ômega 3, apresentassem alguma mínima vantagem, por menor que fosse, não seriam poupados. O pêndulo ainda pende para o consumo de animais nesta balança viciada.

Muita argumentação, muita exposição do que já é óbvio – do que é, afinal de contas, fato científico – tem que ser feita. Pois, apelar para a consciência (mesmo bombardeada de evidências), para a compaixão e para a misericórdia não é suficiente. Haja energia e paciência.


Referências bibliográficas:

  • Alcorta A et al. Foods for Plant-Based Diets: Challenges and Innovations. Foods 2021;10(2):293. Disponível em https://www.mdpi.com/2304-8158/10/2/293
  • Charles CN. Microalgae: An alternative natural source of bioavailable omega-3 DHA for promotion of mental health in East Africa. Scientific African, 2019;6:e00187. Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S2468227619307483?via%3Dihub
  • Informativo técnico suplementos CRF-SP nº 1. Ômega 3. Grupo Técnico sobre Suplementos Alimentares do CRF-SP. Disponível em http://www.crfsp.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9180

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