Estudo indica que dieta vegana reduz o risco cardiovascular desde a infância e adolescência. Desenvolvido por pesquisadores de universidades e institutos de pesquisa da Alemanha, o estudo envolveu um total de 401 crianças e adolescentes residentes na Alemanha, com idades entre 6 e 18 anos. Desses, 115 eram veganos havia mais de quatro anos. Os resultados foram publicados na última edição da revista científica Nutrients.
De acordo com a publicação, a ingestão média de gordura foi mais baixa entre os participantes veganos. A gordura consumida pelos veganos também era de melhor qualidade, isto é, apresentava quantidade mais baixa de ácidos graxos saturados (gordura ruim) e mais alta de poliinsaturados (gordura boa). Consequentemente, os veganos tinham os menores níveis de colesterol total, LDL e não-HDL – colesterol ruim. Os autores explicam que estes resultados fornecem “evidência de redução dos fatores de risco cardiovasculares já na infância e adolescência, apenas com uma dieta vegana”.
De fato, níveis elevados de colesterol ruim, isto é, colesterol não-HDL (como LDL), aumentam o risco de doenças cardiovasculares, como doença arterial coronariana, infarto e acidente vascular cerebral (derrame). Como vários estudos têm apontado a dieta vegana como um recurso protetor desses riscos em adultos, era de se esperar que os mesmos resultados se revelassem também em crianças e adolescentes. Ou seja, evidências de que a dieta vegana reduz risco cardiovascular na infância e na adolescência já eram esperados. Entretanto, é assim que funciona a ciência. Para que uma prática seja aceita como benéfica para os humanos, toda e qualquer evidência precisa ser confirmada em todas as faixas etárias.
Segundo os pesquisadores, o estudo não indicou riscos nutricionais específicos entre vegetarianos e veganos em comparação com crianças e adolescentes onívoros. Isso porque a comparação não mostrou diferenças relativas a deficiências nutricionais – como ferro, folato e vitamina B12. Entretanto, os níveis de vitamina D e B2 estavam abaixo dos valores considerados normais em boa parte das crianças e adolescentes, independentemente de serem veganos, vegetarianos ou onívoros.
Segundo os autores, esses resultados “confirmam a posição de várias sociedades nacionais de nutrição ou pediatria de que uma dieta vegetariana, incluindo uma vegana, pode atender às necessidades nutricionais recomendadas na infância e na adolescência”.
Por outro lado, os resultados mostraram que os veganos devem investir em maior consumo de cálcio. Embora a ingestão de cálcio tenha se mostrado abaixo da referência em todos os grupos, revelou-se menor entre os veganos. Os autores alertaram então para a necessidade de aumentar o consumo de alimentos ricos em cálcio. Eles sugeriram maior ingestão de vegetais verdes escuros com baixo teor de oxalato, como couve, acelga chinesa (bok choy) e brócolis, e ainda tofu, amêndoas e outras nozes, figos secos, grão de bico, água mineral rica em cálcio (com teores a partir de 400 mg/L, basta checar o rótulo da garrafa de água) e alternativas lácteas vegetais fortificadas com cálcio, como leite de soja ou aveia.
Evitar o excesso de vegetais ricos em oxalato é importante, porque esta substância pode provocar efeitos indesejáveis. O oxalato pode, por exemplo, prejudicar a absorção de certos nutrientes – elevando o risco de deficiências nutricionais – e ocasionar a formação de pedras nos rins.
Os autores também chamaram atenção para a importância de se atingir um nível adequado de vitamina D. Afinal, esta é importante para garantir uma absorção de cálcio, sobretudo se a dieta apresentar baixo teor de cálcio. “Portanto, a suplementação de vitamina D deve ser incentivada entre os indivíduos veganos para otimizar a absorção do cálcio da dieta”, informam os pesquisadores.
Tais ajustes aumentam a densidade mineral dos ossos, tornando-os mais fortes e reduzindo o risco de fraturas.
Referências bibliográficas:
- Alexy U et al. Nutrient Intake and Status of German Children and Adolescents Consuming Vegetarian, Vegan or Omnivore Diets: Results of the VeChi Youth Study. Nutrients 2021;13(5):1707. Disponível em: https://doi.org/10.3390/nu13051707