Nutrição vegana após desmame
Ciências da saúde

Nutrição vegana após desmame – como deve ser?

Matéria anterior do Veganismo e Ciência noticiou os resultados de um estudo italiano sobre a relação entre pais veganos e pediatras. Porém, o mesmo estudo, conduzido por pesquisadores de universidades e institutos de pesquisa europeus especializados em pediatria, orienta também sobre como deve ser a nutrição vegana após o desmame do bebê. Para os autores, uma dieta vegana bem planejada, acompanhada de suplementação com vitamina B12 isolada, garante quantidades adequadas de nutrientes e dispensa outros suplementos.

O leite materno é a melhor alternativa

Evidentemente, o leite materno é o melhor alimento que qualquer mãe pode fornecer ao seu filho nos primeiros meses de vida. De fato, durantes os seis primeiros meses, o leite materno deve ser, de preferência, o único alimento do bebê. Após esse período, outros alimentos devem ser introduzidos conforme a orientação do pediatra. Entretanto, caso a mãe possa manter a amamentação, o leite materno será um complemento altamente nutritivo e benéfico para o bebê mesmo após este ter completado seis meses. Como referem os autores do estudo, o leite materno é uma importante fonte de energia e nutrientes. O ideal é manter a amamentação como alimento complementar por, pelo menos, um ano.

Matéria anterior aqui do Veganismo e Ciência já falou da necessidade de uso de suplementos de vitamina B12 durante a amamentação. Como aborda a matéria, a suplementação com doses adequadas é absolutamente indispensável. Com ela, mães veganas alcançam no leite materno níveis adequados, isto é, que estão de acordo com as necessidades nutricionais do bebê.

Os substitutos do leite materno da mãe vegana

No entanto, segundo os autores, caso a amamentação não seja possível, existem alternativas adequadas para substituí-la. “A Sociedade Norte-Americana de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (NASGHAN) destaca que, quando a amamentação não é possível, no primeiro ano de vida, o leite humano só pode ser substituído por fórmulas infantis comerciais adequadas”. E, para quem não sabe, fórmulas à base de vegetais também estão disponíveis. Exemplo são aquelas à base de soja e arroz. Os autores informam que elas são as opções para bebês para os quais a fórmula com leite de origem animal não é adequada. Esse seria o caso de bebês que têm alergia ao leite de origem animal e de bebês veganos.

Os autores alertam que, em contraste, as bebidas vegetais, mesmo que fortificadas, não são adequadas para bebês e crianças. Por quê? Porque, segundo eles, as fórmulas devem representar a principal fonte de nutrição do bebê. Bebidas vegetais comuns não podem fazer esse papel. Portanto, é fundamental consultar o pediatra para saber quais fórmulas ou alimentos poderão figurar como a principal fonte de nutrição do bebê vegano. Para se sentirem mais à vontade para tratar desse assunto, os pais podem procurar pediatras familiarizados com a alimentação vegana.

A nutrição vegana após desmame

Como já referido, nos primeiros seis meses de vida, a amamentação é a melhor alternativa e, após esse período, outros alimentos devem ser introduzidos. E quais deles devem compor a nutrição vegana após desmame? De acordo com os autores do estudo discutido nesta matéria, uma dieta vegana saudável deve incluir regularmente seis grupos de alimentos – frutas, “vegetais”, grãos, alimentos proteicos, gorduras e óleos, bem como nozes e sementes. Os vegetais a que eles se referem são as folhas verdes escuras – excelentes fontes de folato, ferro, cálcio, potássio e vitaminas A, C e K.

Quanto aos grãos, os autores explicam que os integrais são tipicamente ricos em ferro, zinco, magnésio, selênio, vitaminas do complexo B e fibras. Exemplos são o feijão, a lentilha e o grão de bico. Não se deve esquecer de deixá-los de molho de um dia para o outro (ou por 12 horas) e trocar a água do molho duas ou três vezes para eliminar o excesso de ácido fítico (fitato). Afinal, este prejudica a absorção dos nutrientes presentes nos grãos. Esse procedimento também ajudará a reduzir o problema dos gases e, portanto, reduzirá as cólicas. Além disso, inclua na mesma refeição alimentos ricos em vitamina C – como as frutas –, para promover a absorção do ferro presente nos grãos.

Outros alimentos importantes são, por exemplo, o arroz integral, a quinoa e a ervilha. Sabe-se que a combinação do arroz integral com feijão (ou lentilha, grão de bico ou ervilha) constitui uma refeição extremamente nutritiva. De qualquer maneira, embora existam, de fato, combinações como essa, que são estratégicas e mais adequadas do ponto de vista nutricional, a variedade é importante. Para os autores, ao receber, durante o dia, uma grande variedade de alimentos, as crianças podem obter quantidades adequadas de aminoácidos essenciais – os blocos de construção das proteínas.

As gorduras boas são necessárias

Eles ressaltam que é essencial fornecer às crianças calorias e nutrientes adequados. Segundo eles, “isso significa que as crianças não devem seguir dietas com restrição calórica, e as calorias devem provir de quantidades adequadas de carboidratos, gorduras e proteínas diariamente”. Eles defendem que “as gorduras são necessárias para o desenvolvimento normal do cérebro e a principal fonte de energia para um crescimento satisfatório durante a infância”. Destacam que, em alimentos vegetais, predominam os ácidos graxos insaturados, que constituem a gordura boa. E, conforme a publicação, uma fonte importante de calorias, gorduras insaturadas, proteínas e minerais são as oleoaginosas (por exemplo, nozes, amendoim, castanhas e amêndoas).

Os autores admitem que alguns pais de crianças pequenas têm medo de oferecer esse tipo de alimento pelo receio de reações alérgicas ou engasgamento. Porém, eles também prestam esclarecimentos sobre essa questão. Explicam que, de acordo com evidências atuais, a introdução de alimentos alergênicos (por exemplo, amendoim, nozes, etc.) durante o desmame, em vez de mais tarde na vida, pode reduzir a chance de a criança desenvolver alergias alimentares. “Em segundo lugar, o risco de engasgar depende muito da forma e da consistência dos alimentos: misturar as nozes (para fazer farinha ou creme) é uma estratégia para engolir com segurança e facilita, para as crianças, em termos de baixa capacidade mastigatória”. Seja como for, “o aconselhamento nutricional profissional é extremamente importante para os pais que apresentam aos filhos alimentos sólidos”.

Uso de suplementos na nutrição vegana após desmame

Os autores ressaltam também a importância da suplementação de vitamina B12 para as crianças. Reforçam que uma suplementação oral regular de vitamina B12 é obrigatória para aqueles que não consomem alimentos de origem animal. Eles alertaram para a possível inadequação dos multivitamínicos no que diz respeito à B12. “Deve-se notar que esses produtos [multivitamínicos] podem ser insuficientes ou mesmo contraproducentes para a absorção ideal de vitamina B12”. Eles explicam que o problema se deve aos outros componentes da fórmula dos multivitamínicos, que podem inativar a vitamina B12. “Na verdade, a cobalamina [vitamina B12] pode ser degradada na presença de vitamina C e cobre, formando subprodutos inativos”. Portanto, pais e filhos veganos devem usar suplementos que contêm vitamina B12 isoladamente.

Desde que a mãe, durante a amamentação dos primeiros seis meses, tome suplementos de vitamina B12 em doses suficientes, o bebê só precisará da suplementação após esse período. Os autores destacam a importância dessa suplementação. “Os pais que não dão a seus filhos suplementos de vitamina B12 devem estar cientes de que uma deficiência prolongada de vitamina B12 durante os primeiros anos de vida pode levar a lesões cerebrais permanentes. Portanto, é recomendado iniciar a suplementação de vitamina B12 junto com a introdução de alimentos sólidos”.

Para os autores, desde que a alimentação seja variada e adequada, outros suplementos não são necessários. Isso porque, com exceção da vitamina B12, uma dieta vegana bem elaborada fornece todos os nutrientes necessários. “Uma avaliação de qualquer outra suplementação dietética (por exemplo, ácidos graxos ômega-3, ferro, cálcio, etc.) não foi feita porque uma dieta vegana bem planejada, que inclui regularmente todos os grupos de alimentos mencionados acima, garante quantidades adequadas de macronutrientes e micronutrientes”. É claro que o planejamento exige apoio profissional.

Outras fontes de informação para pais veganos

Pais veganos devem buscar apoio profissional e, também, usar fontes de informação confiáveis. Uma delas é o livro inteiramente gratuito “Alimentação para Bebês e Crianças Vegetarianas até Dois Anos de Idade”, da Sociedade Vegetariana Brasileira. O livro, disponível online, é de autoria do médico nutrólogo brasileiro Dr. Eric Slywitch. O Dr. Eric é também autor dos livros Alimentação sem Carne, Virei Vegetariano. E Agora? e Emagreça sem Dúvida.


Referências bibliográficas:

  • Bivi D et al. Raising Children on a Vegan Diet: Parents’ Opinion on Problems in Everyday Life. Nutrients 2021;13(6):1796. Disponível em https://doi.org/10.3390/nu13061796

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