Na defesa dos animais, apresentar, por meio da acusação, informações sobre danos aos animais, advindos da pecuária industrial, pode levar a um aumento da reação defensiva. E esta pode elevar a resistência a mudanças de atitudes e de intenções comportamentais.
Essa foi a conclusão de um estudo realizado por pesquisadores da três instituições de pesquisa – Escola de Psicologia Baruch Ivcher, Herzliya, Israel, Departamento de Psicologia da Universidade Friedrich Schiller de Jena, Alemanha, e Universidade Studi di Milano, Bicocca, Itália. Os resultados foram publicados na revista científica PLOS One.
O estudo, que envolveu mais de 1300 pessoas, foi conduzido em Israel, onde, segundo a publicação, há alto consumo de carne e laticínios. De acordo com os autores, a maioria dos israelenses consome esses produtos, e em grandes quantidades.
Os autores contam que “embora o movimento israelense de defesa dos animais veganos tenha crescido na última década e o país tenha um número relativamente alto de veganos, a grande maioria da população (aproximadamente 87%) é onívora”.
De fato, atualmente, Israel ocupa o quarto lugar no consumo de carne per capita entre os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O país fica atrás apenas dos Estados Unidos, Brasil e Argentina.
O tom da abordagem em defesa dos animais pode gerar autodefesa
De acordo com os resultados do estudo, a atribuição de culpa quanto aos danos aos animais levou os participantes da pesquisa a, por exemplo, apoiarem menos o veganismo.
Além disso, as reações de autodefesa dos participantes acusados impulsionou a resistência à mudança de atitude e de comportamento.
“Até onde sabemos, esta é a primeira demonstração dos custosos efeitos da culpa nos esforços de persuasão e, especificamente, no que diz respeito à conscientização sobre o sofrimento animal na pecuária industrial”, afirmam os autores.
“Os resultados sugerem que a forma como os ativistas comunicam as transgressões éticas impacta sua eficácia”, alertam.
Os autores explicam que, em movimentos sociais, ativistas motivados por fortes convicções morais sobre sua causa, podem estar inclinados a culpar as pessoas. E o fazem intencionalmente ou inadvertidamente. Isso porque evidentemente estão tentando conscientizar as pessoas quanto a sua cumplicidade em comportamentos antiéticos.
Para os autores, esses achados são um alerta alerta para as consequências negativas – não intencionais –da atribuição de culpa, na defesa dos animais. A culpa leva, na verdade, a um estímulo da autodefesa e, com isso, pode ser contraproducente.
Eles afirmam que “pode ser mais eficaz aliviar as pessoas da responsabilidade por suas agressões passadas”, ao mesmo tempo em que informam sobre os dados das atitudes antiéticas. Essa conduta poderia melhorar a receptividade às informações prestadas, em consequência, provocar mudanças positivas.
Em suma, para os pesquisadores, os ativistas que apelam para a acusação deveriam mudar de estratégia. “Os ativistas fariam bem em transmitir informações poderosas e instigantes, ao mesmo tempo em que mantêm a integridade da autoimagem moral de seu público-alvo”.
Desse modo, evitariam provocar reações defensivas nos movimentos em defesa dos animais. “Se a informação for fornecida de uma forma que possa ser interpretada como acusação, respostas de autoproteção e justificativa podem ocorrer e as campanhas podem até sair pela culatra”.
Pelos animais, precisamos refletir sobre as nossas abordagens
Encarar esta lógica é frustrante. Afinal, não é fácil aceitar que a defensiva pode reforçar – pelo menos em um grande número de pessoas – atitudes cruéis e desnecessárias, como a produção e o consumo de produtos animais.
Quando apontamos os produtores, consumidores e exploradores de animais como culpados, imprimimos nessa atitude nossa esperança de trazer à tona a consciência sobre o quanto essa produção e consumo são cruéis, sem sentido, medievais e desnecessários.
E nesse momento, toda a nossa inconformidade salta – indignada, emotiva e desesperada –, porque acreditamos que alcançar essa consciência é possível.
Mas, por outro lado, se a nossa preocupação é a proteção dos animais e se estes são, de fato, as verdadeiras vítimas – e não nós –, precisamos tomar cuidado com a nossa abordagem enquanto ativistas. Isso para não prejudicar ainda mais os animais.
No mínimo, precisamos refletir sobre as nossas abordagens.
Referências bibliográficas:
- Shulman D et al. The cost of attributing moral blame: Defensiveness and resistance to change when raising awareness to animal suffering in factory farming. PLoS One 2021;16(8):e0254375. Disponível em https://doi.org/10.1371/journal.pone.0254375
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