Carne contém agrotóxicos e outros contaminantes
Ciências agrárias

Carne contém agrotóxicos e outros contaminantes

Os agrotóxicos não são exclusividade dos vegetais. A carne também contém agrotóxicos e outros contaminantes. De acordo com publicação do Departamento de Toxicologia Ambiental da Universidade de Tecnologia do Texas, o confinamento comercial do gado “não poderia operar lucrativamente” sem agrotóxicos e drogas como esteroides anabolizantes sintéticos e antimicrobianos, entre outras. O artigo foi publicado na revista científica americana Environmental Toxicology and Chemistry.

De acordo com a publicação, por vários meses, “o gado é alimentado com dietas densas em energia para adicionar músculo e gordura antes do abate, uma prática comum nos Estados Unidos, Canadá e Austrália, com prevalência crescente no México, China, Paraguai, Brasil e Argentina”. Entretanto, segundo a publicação, esse procedimento – que inclui ainda a melhoria genética do gado – não é suficiente para a engorda, nem para o controle de doenças, pragas e comportamentos indesejáveis. Daí o emprego de um arsenal de produtos químicos, que depois são ingeridos junto com a carne pelos humanos.

Os autores destacam um problema já comentado aqui no Veganismo e Ciência: os antimicrobianos (por ex., antibióticos) usados na produção de carne – conduta que gera resistência microbiana. “O setor de produção animal e agropecuária é o maior consumidor de antimicrobianos. Nos Estados Unidos, os animais respondem por 80% de todo o uso de antimicrobianos”. Eles afirmam que “não surpreendentemente, os antimicrobianos são detectáveis ​​em esterco e solos aos quais o esterco foi aplicado”.

Todavia, essa contaminação não é restrita ao solo das proximidades do confinamento do gado. Segundo eles, a partir desses locais, partículas contendo antimicrobianos e sequências de genes de resistência antimicrobiana são transportadas pelo ar, contaminando outras áreas, bem como animais humanos e não humanos e seus alimentos. “Além dos antimicrobianos, o material particulado fugitivo do pátio de rações foi identificado como meio de transporte para esteroides sintéticos (androgênios, estrogênios e progestagênios)”. Estas substâncias são, em geral, os promotores de crescimento (anabolizantes) – hormônios utilizados no gado para promover crescimento rápido. “Esses medicamentos veterinários estão entre os desreguladores endócrinos mais potentes em uso hoje, porque são projetados especificamente para interagir com os receptores endócrinos in vivo”.

Os inseticidas agrotóxicos transportados pelo ar podem ser um problema maior do que os hormônios promotores de crescimento. Eles também não contaminam apenas o pasto. “Uma ampla gama de agrotóxicos também foi quantificada em partículas fugitivas de quintais em concentrações muito mais altas do que aquelas de promotores de crescimento aerotransportados. Agroquímicos de confinamento foram detectados em águas superficiais, flores e insetos polinizadores silvestres [por ex., abelhas] coletados nas proximidades de confinamentos”. Um desses agrotóxicos é a permetrina, antiparasitário usado no gado para combater berne (larvas que penetram na pele), piolhos, carrapatos e pulgas. “O material particulado emitido a cada dia de confinamento nos Estados Unidos contém teoricamente permetrina suficiente para matar mais de um bilhão de abelhas”.

Aqui no Brasil, entre 2015 e 2018, o Plano Nacional de Controle de Resíduos e Contaminantes em Produtos de Origem Vegetal analisou a quantidade de agrotóxicos presentes nos vegetais. Os resultados mostraram que 92% das amostras analisadas estavam dentro dos níveis de conformidade, o que apontou os vegetais como seguros para consumo. Por outro lado, vale lembrar que os vegetais são utilizados para alimentar os animais na produção de carne. Portanto, se os vegetais estiverem contaminados com níveis elevados de agrotóxicos, a carne produzida também estará. Além disso, o próprio pasto acaba sendo contaminado.

De fato, já se sabe que os produtos de origem animal – não só a carne, mas também, o leite e os ovos – apresentam agrotóxicos. Esse problema tem sido tratado, há muito tempo, pela ciência e pela mídia (veja aqui matéria da UOL sobre o tema).

Enquanto o uso de agrotóxicos e antimicrobianos é um problema que envolve também a produção de carne brasileira, o emprego de substâncias de engorda animal – promotores de crescimento (anabolizantes) – na produção comercial, é proibido no Brasil.


Referências bibliográficas:


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