alimentação vegana exigiria menor uso da terra
Ciências agrárias

Alimentação vegana exigiria menor uso da terra

A adoção de uma alimentação vegana exigiria menor uso da terra – menos de 10% do que foi usado na produção agrícola nos últimos 30 anos no Brasil. Essa foi uma das conclusões de um estudo conduzido por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Brasil, Universidade de Minnesota, Estados Unidos, Universidade de Aberdeen, Reino Unido, e Centro Internacional de Milho e Trigo, México. A pesquisa foi publicada na revista científica americana PLOS ONE. A redução do uso da terra – hoje vastamente empregada na pecuária e na produção agrícola – resultaria em benefícios para o meio ambiente, como diminuição do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa.

Os pesquisadores explicam que mais de 70% dos nutrientes utilizados na alimentação humana são produzidos a partir de plantações de vegetais. Uma fração bem menor vem dos pastos. No entanto, estes ocupam boa parte do território brasileiro. Por isso, a redução do consumo de carne economizaria uma quantidade considerável de terra. “Mudar as dietas para aquelas que contêm quantidades menores de produtos de origem animal pode reduzir potencialmente a demanda de terra em 66,5% no cenário sem carne, ou em 94,1% no cenário vegano, o que economizaria entre 165 e 231 milhas de terras agrícolas”, declaram os autores. Isso equivale a uma área entre 265 e 372 km.

Os autores argumentam que a expansão do uso da terra é fator importante na promoção do desmatamento e das emissões de gases de efeito estufa no Brasil. Eles explicam que “a aplicação de políticas contra o desmatamento, juntamente com incentivos para promover a produção de alimentos que não agridam a biodiversidade, pode melhorar significativamente a sustentabilidade do setor agrícola brasileiro”. Para eles, a promoção de dietas mais sustentáveis, saudáveis ​​e diversificadas permitiria a preservação do ecossistema, atualmente ameaçado pela expansão das pastagens.

A ressalva, segundo os pesquisadores, é o fato de que o cálcio e a vitamina A consumidos atualmente são de origem bovina. Todavia, estes estão disponíveis em vários alimentos vegetais. O nutriente realmente crítico seria a vitamina B12. Mas, para os pesquisadores, “aqui, a fortificação de alimentos desempenharia um papel importante para atender às necessidades nutricionais da população”.

Ontem, matéria do Veganismo e Ciência comentou que alimentos fortificados com vitamina B12 podem não atender às necessidades nutricionais dos veganos. Com isso, o uso de suplementos é ainda fundamental para garantir os níveis adequados dessa vitamina no corpo. Entretanto, essa realidade pode mudar com um maior investimento, por parte da indústria, na fortificação de alimentos com vitamina B12. Afinal, a deficiência desse nutriente, como já se comentou inúmeras vezes aqui no site, é também muito comum nos onívoros.

A fortificação de alimentos pela indústria já é um procedimento habitual. O exemplo mais ilustrativo é a fortificação do sal de cozinha com iodo como forma de prevenção da deficiência desse nutriente. Além disso, muitos alimentos são fortificados com cálcio, ácidos graxos ômega 3, entre outros nutrientes. Ou seja, esse tipo de recurso já é trivial. Portanto, usar a necessidade de fortificação ou suplementação de B12 como crítica ou resistência à alimentação vegana é mais um pretexto sem fundamento.


Referências bibliográficas:

  • Pompeu J et al. Is domestic agricultural production sufficient to meet national food nutrient needs in Brazil? PLoS One 2021;16(5):e0251778. Disponível em 10.1371/journal.pone.0251778

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