A bioimpressão (bioprinting) é uma técnica que permite o posicionamento exato de células vivas em arranjos tridimensionais (3D) para fabricar tecidos e órgãos por meio de uma bioimpressora. Estes podem ser produzidos a partir de células humanas e servem como alternativas aos experimentos com animais. No entanto, na bioimpressão, são utilizados produtos de origem animal. Para ajudar a solucionar este problema, pesquisadores do Instituto de Biotecnologia da Universidade Técnica de Berlim, Alemanha, produziram um artigo no qual propuseram alternativas sintéticas ou derivadas de plantas para substituir esses produtos animais. Os pesquisadores chamaram essa modalidade de bioimpressão limpa (Clean Bioprinting). O artigo, intitulado “Bioimpressão limpa – fabricação de modelos de órgãos 3D desprovidos de componentes animais” foi publicado na revista científica suíça ALTEX – Alternatives to Animal Experimentation.
No artigo, os pesquisadores defendem que “a bioimpressão é uma tecnologia emergente que produz modelos de órgãos com precisão sem precedentes”. Para eles, ao utilizar células humanas, os órgãos impressos, isto é, produzidos artificialmente, podem gerar resultados mais apropriados para a fisiologia humana do que modelos animais. Eles acrescentam que esse recurso torna a pesquisa biomédica mais apropriada para os humanos, ajudando a evitar o problema das diferenças entre as espécies (humanos e não humanos) inerentes aos estudos pré-clínicos em animais.
Os estudos pré-clínicos são aqueles que, ainda atualmente obrigatórios, precedem os testes em humanos. A bioimpressão pode vir a substituir essa fase, dispensando o uso de animais. “Por outro lado, como pontuam os pesquisadores, vários produtos de origem animal são ainda utilizados na bioimpressão, tais como soro fetal bovino e gelatina – esta última, usada, por exemplo, na “biotinta” da bioimpressora. Por isso, no artigo, eles apontam alternativas para substituí-los, contribuindo assim para uma evolução da técnica, de modo que ela venha a ser de verdade uma substituição do uso de animais. Do contrário, para os pesquisadores, ela constituiria apenas uma melhoria do bem-estar animal.
De qualquer maneira, a bioimpressão representa uma grande esperança de melhorar o sucesso dos estudos científicos. Os autores comentam que a alta taxa de falha de candidatos a medicamentos em testes clínicos se deve, em parte, às diferenças entre a fisiologia animal e humana. Eles argumentam que, embora os testes pré-clínicos envolvam vários modelos animais para avaliar a eficácia e a toxicidade de uma substância, aproximadamente 90% dessas substâncias falham durante o desenvolvimento clínico. Essa porcentagem de fracasso chega a 97% em oncologia. As principais razões para o insucesso são a baixa eficácia e a toxicidade inesperada, que surge na etapa dos testes em humanos. “Além do fracasso nos ensaios clínicos, muitos medicamentos têm sido retirados do mercado após a sua aprovação. Em 2016, um banco de dados compreendia 578 medicamentos retirados, quase metade dos quais foram descontinuados devido a reações adversas e efeitos tóxicos”. Os pesquisadores defendem que “o progresso recente no desenvolvimento de modelos de órgãos 3D pode ajudar a superar os problemas inerentes à previsão da eficácia e toxicidade de candidatos a medicamentos”.
No entanto, os pesquisadores admitem que a bioimpressão é uma tecnologia altamente sofisticada, e um amplo treinamento e experiência são necessários para explorar totalmente seu potencial. De qualquer maneira, cursos de capacitação estão disponíveis no Brasil e no exterior. O treinamento também pode ser feito nos próprios laboratórios que já utilizam a técnica.
Tomara que a bioimpressão esteja conquistando muitos adeptos e que eles venham a implementar uma bioimpressão limpa – ou vegana, para os íntimos. Independentemente do nome que se dá, trata-se de uma oportunidade magnífica para quem quer ser protagonista da revolução da ciência.
Referências bibliográficas:
- Berg J, Kurreck J. Clean Bioprinting – Fabrication of 3D Organ Models Devoid of Animal Components. ALTEX 2021;38(2)