Veganismo e desempenho esportivo
Ciências da saúde

Veganismo e desempenho esportivo

A ciência mostra que veganismo e desempenho esportivo combinam. Matéria publicada ontem aqui no Veganismo e Ciência noticiou um relato de caso de sucesso de um atleta de elite que fez a transição para uma dieta vegana. Porém, mais pesquisas apontam o sucesso da dieta vegana tanto no desempenho quanto na saúde dos atletas. Alguns desses resultados estão reunidos em uma revisão realizada por pesquisadores de universidades das cidades de Istambul (Turquia), Hamilton (Canadá) e Zurique (Suíça). O grupo analisou o impacto das dietas adotadas por atletas no desempenho de esportes de alta resistência. A revisão foi publicada na revista científica Nutrients.

No artigo, os autores comentam que muitos atletas conhecidos adotaram uma dieta vegana e melhoraram seu desempenho. Eles mostram que essa conduta nutricional está crescendo no atletismo, incluindo o de alta resistência. Como exemplo, citam o Nutrition and Running High Mileage (NURMI) – em português, Nutrição e Corrida de Alta Quilometragem –, estudo realizado com corredores de ultra resistência, residentes na Áustria, Alemanha e Suíça. Nessa pesquisa, cujos resultados foram publicados em 2016, 37% dos atletas participantes já eram veganos.

Os autores explicam que uma dieta vegana bem planejada pode fornecer um suporte nutricional adequado para atletas e que riscos de problemas existem se a composição alimentar não é bem estruturada. Segundo eles, esses riscos envolvem, por exemplo, a incapacidade de acessar alimentos veganos quando necessário. Outro problema – para atletas –, pode ser o desenvolvimento de saciedade precoce e perda de apetite em função do alto teor de fibras dos alimentos vegetais. Além disso, os atletas correm risco de apresentar deficiência de certos micronutrientes, incluindo ômega-3, ferro, zinco, iodo, cálcio, vitamina D e vitamina B12.

Por outro lado, uma alimentação vegana devidamente programada e ajustada pode evitar as deficiências de nutrientes. Alguns estudos comprovam esse fato. Os autores citam, por exemplo, uma pesquisa recente, publicada em 2019, realizada com atletas veganos, ovo-lacto-vegetarianos e onívoros. Nessa pesquisa, as dietas dos participantes seguiam as recomendações nutricionais das sociedades de nutrição alemã, austríaca e suíça para a população em geral. Os resultados mostraram que, enquanto as atletas veganas alcançaram níveis adequados de ferro consumindo apenas alimentos ricos em ferro, as atletas ovo-lacto-vegetarianas e onívoras atingiram esses níveis somente após a suplementação.

Inúmeras evidências demonstram também que o veganismo é perfeitamente compatível com o desempenho esportivo, inclusive em esportes de altíssima resistência. Os autores citam o caso de um ultra triatleta vegano de 48 anos, que completou um triplo Ironman – 11,4 km de natação, 540 km de ciclismo e 126 km de corrida – em 41 horas e 18 minutos. Esse caso foi publicado em 2014 na revista científica nova-iorquina Case Reports in Cardiology e, na ocasião, o atleta era vegano havia nove anos. Antes disso, já era vegetariano. Uma ampla avaliação, que incluiu parâmetros cardiovasculares, respiratórios e hematológicos, mostrou que o atleta não apresentava deficiências alimentares ou problemas de saúde.

Com base nesses e muitos outros achados apresentados na revisão, os pesquisadores concluíram que “uma dieta vegana bem planejada pode ser uma ótima alternativa para atletas de ultra resistência que suportam condições extremas, como desafios metabólicos relacionados ao estresse psicológico, fisiológico, endocrinológico e imunológico, durante períodos de treinamento prolongado”. Destacaram que, todavia, essa alimentação deve incluir certos micronutrientes, como proteína vegetal de alta qualidade, ferro, ácidos graxos ômega-3, zinco, cálcio, iodo, vitamina B12 e vitamina D.

Eles acrescentaram que essa dieta fornece vários benefícios à saúde quanto a condições como hipertensão, doenças isquêmicas do coração, diabetes e obesidade. Recomendaram ainda que os veganos monitorem cuidadosamente as concentrações de vitamina B12 no sangue e complementem suas dietas, se necessário, com suplementos ou alimentos fortificados.


Referências bibliográficas:

  • Devrim-Lanpir A et al. Efficacy of Popular Diets Applied by Endurance Athletes on Sports Performance: Beneficial or Detrimental? A Narrative Review. Nutrients 2021;13(2):491. Disponível em https://doi.org/10.3390/nu13020491

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