Agricultura orgânica vegana
Ciências agrárias

Estudo analisa a agricultura orgânica vegana

Universidades e indústria precisam investir em pesquisas para o desenvolvimento de produtos destinados à agricultura orgânica vegana. Essa é uma das conclusões de um estudo da Universidade Loyola Marymount, Los Angeles, Estados Unidos, que analisou a atividade. Para isso, os autores da pesquisa entrevistaram 25 agricultores veganos de 19 fazendas nos Estados Unidos que praticam a agricultura orgânica vegana. O artigo resultante acaba de ser publicado na revista científica Agriculture and Human Values.

Como informa a publicação, a agricultura orgânica vegana é aquela que exclui a criação de animais e o uso de produtos de origem animal, ao mesmo tempo que evita os produtos sintéticos. De acordo com a Rede Americana de Agricultura Vegânica (Veganic Agriculture Network – VAN), a agricultura vegana é “uma abordagem para o cultivo de alimentos vegetais que abrange o respeito pelos animais, o meio ambiente e a saúde humana”. A agricultura vegana orgânica vai então além dos padrões orgânicos. Isso porque elimina o uso de produtos derivados de animais confinados e incentiva a presença de animais silvestres nativos nas terras agrícolas.

A agricultura orgânica vegana é denominada vegânica

Vegânico ou vegânica (Veganic) seria, portanto, uma combinação de duas palavras ‘vegano’ e ‘orgânico’. Esse termo constitui então uma garantia de que os alimentos são cultivados de forma orgânica. Ou seja, limita-se ao uso de fertilizantes à base de plantas, incentivando, segundo os autores, a biodiversidade funcional para que os pesticidas não sejam necessários. Os produtos excluídos dessa atividade são, por exemplo, esterco, farinha de sangue, farinha de penas e emulsão de peixe. Em vez disso, a vegânica emprega produtos vegetais ​​que não dependem da exploração animal.

A gratificação de viver conforme seus valores

Um agricultor participante da pesquisa comentou que uma das maiores barbaridades da agricultura convencional é, por exemplo, a obtenção de estrume de uma fábrica de frangos. “O que você está fazendo, no que está investindo dólares, o que está apoiando, é uma atrocidade horrível e horrível”, desabafou. Já a agricultura orgânica vegana proporciona, segundo esses agricultores, sensação de prazer. Isso porque, para eles, é gratificante viver de acordo com seus valores e conviver com animais de vida livre sem exercer sobre eles controle letal.

A agricultura orgânica vegana oferece mais segurança alimentar e saúde

Outro agricultor acrescentou que “outra coisa legal sobre a agricultura vegana é que há uma grande redução nos surtos de contaminação cruzada”. “Como você não precisa se preocupar com estrume de galinha, você está apenas se preocupando com plantas fermentadas, plantas decompostas”, explicou. Além disso, vários agricultores contaram que a exclusão de produtos de origem animal diminuiu o tempo e o esforço necessários para cumprir as regras e regulamentos de segurança alimentar. Com isso, foi também mais fácil obter as certificações agrícolas.

“É muito gratificante poder dizer às pessoas que ‘Ei, nosso produto, você não precisa se preocupar com recalls ou surtos de Escherichia coli [bactéria] e qualquer coisa desse tipo, porque nós nem mesmo usamos nada disso’”, afirmou uma das entrevistadas. “Dez anos atrás, eu acreditava que você precisava usar estrume para ter uma produção orgânica que fosse competitiva de forma sustentável, com a produção convencional, e agora não acredito mais nisso”.

Eles manifestaram também satisfação em poder oferecer aos seus clientes “boa comida”, contribuindo assim com o bem-estar da comunidade. Devido à forma de produção da agricultura orgânica vegana, eles enxergam seus produtos como mais saudáveis, mais puros e mais ricos em nutrientes. Para eles, os produtos têm ainda qualidade superior, inclusive medicinal, e são também mais saborosos. Relatam que o uso de estrume comprometia, por exemplo, o sabor das frutas.

A atividade promove também sustentabilidade

Além disso, eles alegaram que o esterco, que incluía estrume e outros resíduos animais, tornava o solo menos estável do que adubos verdes e provocava mais erosão. Informaram que os adubos verdes têm maior rendimento, reduzem os problemas com insetos e oferecem menor risco de transmissão de doenças.

A sustentabilidade da agricultura vegana orgânica é outra vantagem dessa atividade. Ela evita, por exemplo, o abuso de recursos hídricos, comum nas fazendas tradicionais, que é necessário para criar os animais. “Eu cultivo ‘veganicamente’ porque sei que isso usa menos recursos apenas tirando os produtos de origem animal da equação”, argumentou um agricultor vegano. “Existem apenas 9 mil pés quadrados por pessoa no planeta, se você dividir tudo de forma justa e dar a todos uma chance justa”, argumentou. “Este país tem muitas terras e muitos recursos, e temos sorte, mas isso não vai durar para sempre, então estamos procurando essas soluções de longo prazo”.

Ampliação requer apoio das universidades e da indústria

Segundo os agricultores, a forma mais importante de apoio para a comunidade de fazendeiros veganos dos Estados Unidos pode vir das universidades. Eles pedem estudos para o desenvolvimento de produtos destinados à agricultura estritamente baseado em plantas. De fato, conforme concluem os autores do estudo, a expansão da pesquisa na área ajudaria a ampliar o conhecimento sobre soluções para essa atividade. Também ampliaria as oportunidades de formação profissional na área e melhoraria os serviços de assistência técnica. A extensão universitária com a participação dos agricultores seria um dos caminhos. “Incluir ativamente as percepções dos agricultores participantes para garantir a relevância da pesquisa será essencial”, afirmam os autores.

“Este é um momento particularmente interessante para expandir a pesquisa sobre agricultura vegana, dadas as mudanças de atitudes em relação à pecuária”, defendem. Comentam que, nos últimos anos, houve críticas sem precedentes aos malefícios da pecuária. Entre eles, citam os gases de efeito estufa, o uso de recursos e as ameaças à segurança alimentar. Para eles, isso tudo se soma ao problema “moral” do consumo de animais como alimento. “A pandemia da COVID-19 destacou a relação entre o consumo animal e a saúde pública, bem como as condições de trabalho em matadouros industriais”. O rápido crescimento do mercado de leites e carnes à base de plantas, bem como com a expansão da pesquisa e desenvolvimento de carnes cultivadas, apontam o interesse em alternativas que mudem o trágico cenário atual.

O avanço da agricultura orgânica vegana constitui oportunidades

Nesse sentido, os autores reforçaram a necessidade de investir também em estudos sobre métodos de produção veganos, à base de plantas, para implantação em massa. “Os insights básicos apresentados neste artigo prenunciam o avanço da agricultura vegana liderada por agricultores e destacam as perspectivas e oportunidades para defensores, pesquisadores, educadores e formuladores de políticas”, afirmam. Estes achados constituem uma sinalização não apenas para as universidades, mas também para a indústria. Esta, ostentando a bandeira da sustentabilidade, da ética, da moral e da segurança alimentar certamente obterá recursos para investir em pesquisa e desenvolvimento. Dessa forma, alcançará grandes lucros. O planeta – e seus habitantes – também lucrará.


Referências bibliográficas:

  • Seymour M, Utter A. Veganic farming in the United States: farmer perceptions, motivations, and experiences. Agric Human Values 2021;7:1–21. Disponível em 10.1007/s10460-021-10225-x

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